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A Importância de Tratar os Filhos com Empatia

A psicoterapeuta e escritora suíça Alice Miller diz, sem rodeios: "Qualquer pessoa que maltrata os filhos foi ela mesma gravemente traumatizada na infância... não há outro motivo para os maus-tratos às crianças senão a repressão da lembrança dos maus-tratos e da confusão sofridos pelo próprio agressor" (1). Então, como uma criança maltratada pode superar as experiências dolorosas e conseguir dar a seus filhos mais amor do que ela mesma recebeu? Será que essas crianças, ao se tornarem adultas, estão fadadas a reproduzir um ciclo interminável de raiva, agressão e retaliação? Ou existem meios de se interromper esse ciclo e aprender maneiras empáticas e sensíveis de tratar os filhos?

Embora os pais que ferem tenham sido eles mesmos feridos na infância, a perpetuação desse modelo não é inevitável: algumas crianças maltratadas crescem determinadas a dar a seus próprios filhos a infância que não tiveram. Meu pai, que algumas vezes apanhava ou era menosprezado por seu pai, traduzia esse desejo em "dar a meus filhos uma vida melhor do que eu tive". Mas essa afirmação é de uma simplicidade enganosa. Na verdade ela compreende dois passos difíceis: primeiro a pessoa precisa reconhecer que realmente foi maltratada na infância. Esse é o passo mais difícil, pois as experiências de maus-tratos na infância são tão dolorosas que as esquecemos; elas podem ser inacessíveis até mesmo quando já nos sentimos preparados para nos confrontar com nossas limitações emocionais.

Como Alice Miller explica, "muita gente guarda apenas uma vaga lembrança dos tormentos sofridos na infância, pois aprendeu a considerá-los como um castigo justo por sua própria 'maldade', e também porque a criança precisa reprimir os fatos dolorosos para sobreviver" . Mas não é inevitável que a criança maltratada se tornem ela mesma agressora, "se, durante a infância, ela tiver a oportunidade - uma única que seja - de encontrar alguém que lhe ofereça algo diferente de pedagogia e crueldade: professor(a), tio(a), vizinha(o), irmã ou irmão. A experiência de ser amada e tratada com carinho permite à criança reconhecer a crueldade como tal, estar consciente dela e combatê-la".

Mas a consciência não é suficiente para interromper o ciclo dos maus-tratos. O segundo passo nessa direção é o adulto aprender a se relacionar com os filhos de um modo diferente, que talvez ele raramente ou nunca tenha presenciado em sua própria infância. Como esses pais podem aprender a tratar um filho com dignidade e respeito?

Existem quatro medidas fundamentais para os futuros pais e mães criarem filhos emocionalmente saudáveis:

  1. Um bom nascimento.
  2. Amamentar no peito por um período prolongado.
  3. Períodos mínimos de separação e consistência no modo de tratar a criança.
  4. Planejar o espaçamento entre os filhos.

Essas quatro medidas atingem profundamente toda a família. Não só estabelecem a capacidade de amor e confiança do filho como também ajudam os pais a curar as feridas da própria infância. Criando um forte vínculo de amor e confiança entre pais e filhos, essas medidas podem deter o ciclo de maus-tratos em uma geração. Alice Miller nos garante que "é absolutamente impossível uma pessoa criada em ambiente de honestidade, respeito e afeição vir a ter qualquer impulso de judiar de alguém mais fraco... Ela aprendeu desde muito cedo que é correto e bom proteger e ajudar seres pequenos e indefesos; esse conhecimento, gravado em sua mente e em seu corpo desde muito cedo, valerá pelo resto de sua vida". Uma criança assim cresce com a convicção profunda de que é errado ferir um outro ser humano.

Infelizmente muitos pais recentes ignoram essas quatro medidas fundamentais. Pais agressores, que nunca receberam eles mesmos amor e confiança incondicionais, podem ter dificuldade em encontrar um modo diferente de se relacionar com os próprios filhos. O quê se pode fazer por essas famílias? Alice Miller acredita que mudanças na legislação poderiam obrigar os pais a "resolver o seu passado" se "a lei não permitisse mais que as crianças fossem usadas como bodes expiatórios". Na Escandinávia as leis protegem as crianças dos maus-tratos - não só agressão física e abuso sexual, mas também surras e intimidação. Essas leis não implicam em penalidades; elas têm como objetivo despertar a consciência das pessoas para as necessidades e direitos legítimos das crianças. Será que essa legislação pode funcionar, quando tudo o mais tiver falhado? Alice Miller acredita que "qualquer ser humano encurralado procura uma saída. E fica satisfeito e grato de coração se lhe indicarem uma saída que não implique em sentir-se culpado ou em destruir seus próprios filhos... Na maior parte dos casos, os pais não são monstros - eles são crianças desesperadas que precisam em primeiro lugar aprender a enxergar a realidade e tomar consciência de sua própria responsabilidade".

O ciclo inexorável dos maus-tratos pode ser interrompido com o tratamento amoroso das crianças por aqueles que atendem famílias, com programas educativos que enfatizem as quatro medidas de empatia entre pais e filhos e mudanças na legislação. Felizmente a capacidade de amar e confiar, uma vez incutida na criança, passa de geração em geração tão facilmente quanto passam a desconfiança e a crueldade. Alice Miller nos garante que "não é absolutamente verdade que os seres humanos precisem continuar prejudicando compulsivamente seus filhos... As feridas cicatrizam e não precisam ser reproduzidas, desde que não sejam ignoradas. É perfeitamente possível... estar aberto para a mensagem que nossos filhos nos passam e que pode nos ajudar a nunca mais destruir a vida e sim protegê-la e permitir que ela floresça".
 

1 Miller, Alice. Banished Knowledge: Facing Childhood Injuries. New York: Anchor Press, new edition, 1997.

Original English Version

Jan Hunt, M.Sc., offers counseling worldwide, with a focus on parenting and unschooling. She is the Director of The Natural Child Project and author of The Natural Child: Parenting from the Heart and A Gift for Baby.